ATA DA
VIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA
LEGISLATURA, EM 30.06.1987
Aos trinta dias do mês de
junho do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima
Primeira Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona
Legislatura, destinada a homenagear a Estância da Poesia Crioula, pela passagem
do seu trigésimo aniversário. Às dezesseis horas e trinta e cinco minutos,
constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os
trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as
autoridades e personalidades presentes. Compuseram a MESA: Verª. Teresinha
Irigaray, 1ª Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os
trabalhos da presente Sessão; Sr. Hugo Ramirez, Presidente da Estância da
Poesia Crioula; Profª. Beatriz Castro, Secretária da Estância da Poesia
Crioula; Srª. Nilza Castro, Sócia-fundadora da Estância da Poesia Crioula e
ganhadora dos prêmios de Trova e Poemetos dos Concursos da EPC - 1987; Sr.
Leonel Ricardo Tonniges, representando, neste ato, o Dep. José Ivo Sartori,
Secretário do Estado de Trabalho, Ação Social e Comunitária; Sr. Flávio
Stefani, Presidente da União dos Trovadores Brasileiros; Ver. Rafael Santos, da
Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Jorge Goularte, Secretário “ad hoc”. A
seguir foi ouvido o hino Riograndense, executado pelo “Coral Piratini”, de
funcionários da Aços Finos Piratini, de Charqueadas, regido pelo Maestro Gil de
Roca Sales. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que
falariam em nome da Casa. O Ver. Raul Casa, em nome das Bancadas do PFL e do
PL, falou de sua satisfação por participar da presente homenagem, salientando o
significado da Estância da Poesia Crioula para o registro e a preservação da
literatura Rio-grandense e latino-americana. O Ver. Rafael Santos, em nome da
Bancada do PDS congratulou-se com a Estância da Poesia Crioula, pela passagem
do seu trigésimo aniversário e pela filosofia de difusão dos poetas e da
cultura gaúcha adotada por esta Entidade. E a Verª. Teresinha Irigaray, como
proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PDT, PMDB e do PC do B,
discorreu sobre a importância da presente homenagem, destacando as figuras de
Aureliano Figueiredo e Glauco Saraiva dentro da poesia e da tradição de nosso
Estado. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Hugo
Ramirez, Presidente da Estância da Poesia Crioula, que agradeceu a presente
homenagem e à Sra. Nilza Castro, Sócia-fudadora desta Entidade, que declamou um
poema intitulado “Estância da Poesia Crioula”. Após, o Sr. Presidente entregou
ao Dr. Hugo Ramirez correspondência recebida por esta Casa relativa à presente
Sessão e fez pronunciamento referente à solenidade. A seguir, foi ouvido número
musical executado pelo “Coral Piratini”. Nada mais havendo a tratar, o Sr.
Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala
da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Nona Reunião Ordinária
da Quinta Comissão Representativa, amanhã, à hora regimental, e levantou os
trabalhos às dezessete horas e cinqüenta e cinco minutos. Os trabalhos foram
presididos pelos Vereadores Teresinha Irigaray e Rafael Santos, o último nos
termos do art. 11, § 3° do Regimento Interno, e secretariados pelo Ver. Jorge
Goularte, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Jorge Goularte, Secretário “ad hoc”,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada
pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
A SRA. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos
da presente Sessão Solene.
A seguir, ouviremos o Hino Riograndense, pelo Coral Piratini, de
funcionários da Aços Finos Piratini, de Charqueadas, regido pelo Maestro Gil da
Roca Sales.
(É executado
o Hino.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Raul
Casa, que falará em nome das Bancadas do PFL e do PL.
O SR. RAUL CASA: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. convidados, permitam-me os senhores, por uma dessa agradáveis
surpresas que a vida reserva, saudar um outro irmão meu, irmão por opção, que
vejo aqui integrado ao coral da Aços Finos Piratini, meu compadre e amigo,
homem que tive o prazer de, junto com ele, percorrer esse Rio Grande em algumas
lutas que nós, eu e ele, ele e eu, bem conhecemos.
O evento que esta Casa, hoje comemora, é uma dessas oportunidades
gratificantes que tem a nossa atividade parlamentar, quando recebemos a
incumbência de saudar o 30° aniversário desta Entidade única no mundo. E não é
bravata, não é jactância, é uma verdade, a nossa gloriosa e altaneira Estância
da Poesia Crioula. Não me recordo desta Casa sem evocar alguns nomes. Não quero
cometer injustiças, o Ciro Gavião, o Niterói Ribeiro, o nosso colega o
Guilherme Schultz Filho, nosso colega de escritório, apenas nomes que
simbolizam tudo aquilo que nós vivenciamos da Estância da Poesia Crioula,
porque esta é uma homenagem que se faz a uma Entidade que é merecedora do
reconhecimento do nosso povo. Do povo onde ela está sedeada. E muito embora
Srs. homenageados e Srs. convidados, remidos por um final de um semestre
legislativo, extremamente desgastante e extremamente laborioso, não poderíamos
deixar de evocar, do fundo da nossa alma, lembranças do passado, para dizer que
embora não sendo membro da Estância da Poesia Crioula, eu me sinto como um dos
seus.
A homenagem que esta Casa presta ultrapassa a Entidade, para ressaltar
uma obra. A trajetória da “Estância da Poesia Crioula” é a história típica de
homens de cerne, de homens da verdadeira estirpe rio-grandense, eis que
registra, para a posteridade, o devotamento a uma causa, a causa da poesia, da
literatura rio-grandense, gaúcha e americana. Esta é a homenagem que em tão boa
hora nossa querida Verª. Teresinha Irigaray registra para realçar uma atividade
que tem na arte, na poesia, no espírito a razão de sua atividade e de sua
existência. É que na arte, na poesia, na cultura, na música, se canta o amor.
As grandes lições da vida são aquelas que a própria vida nos ensinou. Os artistas,
seres de inesgotável riqueza interior, não querendo ensinar, ensinam, não
querendo persuadir, persuadem, não desejando convencer, convencem. Poucos,
raríssimos os escolhidos, recebem como uma dádiva de Deus este dom e quanto
mais talentosos, mais humildes. Muitos até procuram ocultar virtudes,
constrangidos como a pedir desculpas por serem o que são, como se fosse uma
apropriação indébita terem abundância ou talento, a solidariedade, ou calor
humano, a genial intuição do lirismo para dizer aquilo que a alma e o nosso
espírito quer ouvir.
Temos orgulho, muito orgulho da nossa Estância da Poesia Crioula,
porque ela é a própria poesia e senhores por que os salvos são cantados
poeticamente? A poesia está presente em tudo, na natureza com os pássaros, no
murmúrio das águas, no farfalhar das folhas, no silvo dos ventos, no rumor do
trovão, está na vida e está na morte. A poesia é a alma, sinto-me como poucos
podem imaginar, feliz e realizado em falar em nome da minha Bancada o Partido
da Frente Liberal e falar por uma honrosa delegação e em nome de um Vereador,
tradicionalista desta Casa, o meu fraterno companheiro de sempre, de todas as
horas, das horas boas e das horas más, o Ver. Jorge Goularte.
Para encerrar, senhores, sem querer me alongar, repito algo que gosto
de dizer sempre que tenho a oportunidade que me é proporcionada a chance de
dizer: quando se fizer o inventário do mundo, desta humanidade, certamente, os
escritores, os pintores, os músicos e os poetas, restarão como grande motivo de
orgulho na raça humana, e lembrar a nossa poesia, mais do que gaúcha, mais do
que brasileira, mais do americana, poesia rio-grandense, aqui representada por
sua entidade maior, exatamente neste dia 30 de junho, Ramirez, o dia em que
aquele grupo se reuniu para fundar uma obra imorredoura, que é este movimento,
presente e tendo sempre gravado aquelas palavras que constam dos seus
estatutos, e que eu, muito jovem ainda, vi em mãos de amigos que estão dormindo
já profundamente, e que é fazer com que a poesia rio-grandense seja difundida
de tal forma que ela possa traduzir os anseios da coletividade rio-grandense,
bafejada, como nenhum outro povo deste País, como grande movimento telúrico
americano. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Rafael Santos, que falará em nome da Bancada do PDS.
O SR. RAFAEL SANTOS: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. convidados, logo que a nossa cara Ver.ª Teresinha Irigaray
solicitou - e foi aprovada por unanimidade pelos Vereadores desta Casa - uma
Sessão Solene para homenagear a Estância da Poesia Crioula, tomei a imediata
providência de anotar na minha agenda, como um compromisso inarredável e não só
comparecer a este ato, como de público manifestar o meu regozijo pela passagem
do 30° aniversário da nossa querida Estância da Poesia Crioula.
As atribulações próprias do final do semestre fizeram com que não
tivesse tempo de preparar o discurso, como seria do meu agrado, e ontem, às
seis horas da tarde, peguei o telefone e liguei para o meu amigo Adelar Dubino,
“Caro Dubino, o que faço amanhã, o que digo?” e ele disse: “faça um discurso
como patada de porco”. E ele está no Plenário para não me deixar mentir. Me
tranqüilizou. E realmente, vou ser bastante breve, quero apenas me congratular
com a nossa Estância da Poesia Crioula, com a sua filosofia de congregar os
poetas e divulgar a nossa poesia.
Enquanto falava o nobre Ver. Raul Casa, eu olhava para a Dona Nilza e
comigo pensava que nesta semana em que “n” homenagens foram prestadas à Estância
da Poesia Crioula, pessoas como a D. Nilza e como o Presidente Hugo Ramirez,
que assistiram à fundação e que participaram da fundação da Estância da Poesia
Crioula, hão de ter uma muito feliz lembrança de lutas, de esforço, de trabalho
para manter viva a chama da nossa poesia crioula. Só a edição da antologia da
Estância da Poesia Crioula justificaria a existência dessa entidade. Mas, mais
do que isso, tem sido o permanente, o constante lembrar de que a poesia do Rio
Grande do Sul está viva, está presente e está atuante.
Quero, meu caro Presidente, Hugo Ramirez, dizer da saudade dos poetas
que já partiram e a minha homenagem, e a de meu partido, aos que hoje mantêm
viva a chama da Estância da Poesia Crioula. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Rafael
Santos): Com
a palavra a Ver.ª Teresinha Irigaray, que falará em nome das Bancadas do PDT,
PMDB e do PC do B.
A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. convidados, é como disse o Ver. Raul Casa: depois de um
semestre árduo, penoso e longo, num dia chuvoso, fim de junho, frio, estamos
aqui no aconchego de uma homenagem que tive a mais alta honra e o maior prazer
em trazer à consideração do Plenário. Esta homenagem me gratificou, fez-me
muito feliz, não só pelo Dr. Hugo Ramirez, mas porque ela traduz, como
entidade, um pensamento glorioso de uma raça que considero forte, impávida,
brava e indomável diante de todos os acontecimentos. No remontar da história
sabemos tudo o que o Rio Grande trouxe de bom, que cooperou de salutar e de
idealismo para a formação de várias e várias gerações. A homenagem a uma
Entidade que reúne em seu cerne o que há de mais precioso, a poesia, o cântico
em amor à tradição, como diz o Ver. Raul Casa, dos feitos e da glória de sua
raça, só poderia ser bem homenageada. Homenagearmos a Estância, neste dia frio,
aconchega-nos, porque, estância em si, quer dizer a causa familiar e o fogo
crepitando no galpão, é a peonada atirada nos pelegos, é o campo verde da nossa
terra; pode ser até a chuva escorrendo no alambrado da estância, mas ao mesmo
tempo ela nos palpita em emoção, nos palpita em criatividade, porque a estância
para nós, gaúchos, principalmente para nós da fronteira, é tudo aquilo que
convimos de sentimento, de saudade de tempos de infância e adolescência, já
muito longe, tempo feliz, tempo de mocidade passado numa estância. Remontando
aqui as velhas tradições, ao homenagear a Estância da Poesia Crioula, queria
trazer o nome do seu poeta maior Aureliano de F. Pinto, trazer aqui também os
nomes e o nome de um poeta já falecido, mas que para nós sempre foi um poeta
criativo e que traduzia a felicidade dos que aqui nasceram, o nosso saudoso
Glauco Saraiva. Porque quando Glauco Saraiva falava no seu chimarrão, “naquele
amargo doce que eu sorvo, num beijo em lábios de prata. Tens o perfume da mata,
molhado pelo sereno, e a cuia, seio moreno, que passa de mão em mão, traduz no
meu chimarrão, na sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu
rincão” e, ainda, quando me falava do seu “Poncho Crioulo” dizia: “Meu velho
poncho crioulo, pano de ler, velho abrigo, tu fostes meu berço amigo no momento
em que nasci, desde então sempre vivi sob o teu calor fraterno, nas tropeadas
pelo inverno esse meu berço cigano. Hoje, o destino aragano, reduziu-te a um
pobre trapo. Meu pobre poncho farrapo de lutas mil veterano”.
Evocando também a figura do nosso Dimas Costa, com o seu Negro Benedito
e as suas poesias de alto cunho social. O nosso Aparício Silva Rillo, no
Bolicho, quando ele pede ao bolicheiro que lhe dê mais um trago para disfarçar
a ansiedade do seu velho coração. Também podemos falar no nosso Jaime Caetano
Braum, em tantas coisas bonitas que ele disse. E também podemos falar naquele
poeta esquecido que está no anonimato.
Ele falava, como falamos, no chimarrão e no pala, ele falava na sua
velha estância: “Na velha estância abandonada, sem mangueira e sem ramada, no
capim bravo, solidão. As paredes arrumadas, abrigam almas penadas em noites de
assombração”. São os poetas anônimos que nós vamos colhendo ao longo do tempo.
Então, a minha homenagem, neste momento, é àqueles que figuram nas cisas da
poesia crioula, como seus artistas e seus poetas verdadeiros. Estou
homenageando, também, o humilde, o anônimo que já passou desta vida mas que
deixou esta poesia tão bonita da “Velha Estância Abandonada”.
Homenageamos, também, a Entidade pelo carinho, pela felicidade de
reunir, aqui, neste fim de tarde, todos os Vereadores, todos os Vereadores
desta Casa. Este Coral que veio de longe nos trazer as suas músicas, o seu
canto e nos tocar a sensibilidade, guiados pela mão magistral do Frei Gil de
Roca Sales. Realmente, nós não poderíamos ter tido, Dr. Hugo Ramirez, um final
de semestre melhor, mais gratificante, para a nossa árdua, dura e penosa vida
de políticos, dentro das atribuições de um mundo que nos agride, a cada dia,
que nos maltrata a cada hora e que, praticamente, não reconhece os trabalhos
desenvolvidos dentro de uma casa do povo. Mas é um final muito gratificante, em
que nós nos sentimos em contato, corpo a corpo, coração, alma e cabeça com as
nossas tradições, com a nossa cultura, coma nossa poesia, com o amor da nossa
terra. Então, estamos aqui, nesta hora, nesta, tribuna, despejando emoção,
despejando sensibilidade, dentro desta casa que foi palco, ontem à noite, de
aguerridas discussões, de bravas discussões, talvez de estéreis discussões, mas
que hoje está num ambiente fraterno, num ambiente feliz, num ambiente de
estância, onde só falta, realmente, o crepitar do fogo e a rodada de chimarrão.
Eu me felicito, nesta hora, Dr. Hugo Ramirez, por ter tido a felicidade de
propor a esta Casa esta homenagem. E não digo mais nada, porque há horas em que
a alma está de joelhos e, neste momento, a minha está. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray): Com
a palavra, o Sr. Hugo Ramirez.
O SR. HUGO RAMIREZ: Autoriza-me a Vereadora
Teresinha Irigaray, presidente dos trabalhos, a usar o conforto de falar aos
Srs. Vereadores, aos Poetas, às Senhoras e Senhores convidados na oportunidade
que me cabe na condição de Presidente da “Estância da Poesia Crioula” de
manifestar nosso reconhecimento pelas referências que constituem já um
significativo registro histórico desses trinta anos de ininterruptas atividades
sociais e numerosos serviços culturais prestados ao Rio Grande do Sul pela
Estância da Poesia Crioula, e durante a realização de mais um de seus
congressos nativistas precisamente o 31° Rodeio da Poetas Crioulos, já que a
Estância da Poesia Crioula foi fundada no término do primeiro Congresso, em
junho de 1957.
Saúdo com respeito, e reconhecimento, o Sr. Leonel Ricardo Tonniges,
representante do Secretário de Estado do Trabalho, Ação Social e Comunitária,
José Ivo Sartori; Gil de Roca Sales, Maestro do Coral Piratini, da Aços Finos
Piratini, que generosamente vem dar seu apoio espiritual, musical e artístico a
este evento tão grato à Estância da Poesia Crioula; ao Dr. Flávio Stefani,
Presidente da União dos Trovadores Brasileiros que nos honra com seu prestígio
mais uma vez; ao Padre Amadeu Canelas, aqui presente e que realizou hoje, às
nove horas da manhã, na Estância da Harmonia, à entrada do Parque Maurício
Sirotsky Sobrinho, a missa crioula de encerramento dos atos interno da Estância
da Poesia Crioula; nosso irmão e antigo associado, expoente da arte popular do
Rio Grande do Sul, Paulinho Pires; nossa querida companheira desde a fundação
e motivo da mais grata alegria no
primeiro concurso de poemas e trovas da Estância da Poesia Crioula realizado em
1987, Dona Nilza Castro, com o primeiro lugar em “poemetos”; o Ver. Rafael
Santos que cumpriu a preceito a recomendação de seu amigo Adelar Dubin, e se
ouve com brilhantismo dentro da curteza do espaço do seu impulso intelectual. O
Ver. Raul Casa que falou pelo seu partido, PFL, e também pelo Ver. Jorge
Goularte pelo partido Liberal, fraternal amigo companheiro de atividades
jurídicas num passado próximo, é-nos grato assinalar que tem e temos a Estância
da Poesia Crioula um amigo na pessoa deste Vereador que, ainda no ano passado
requeria a esta Casa a via aprovado, de um requerimento seu para que fosse
outorgado um voto de louvor ao “30° Rodeio de Poetas Crioulos” da nossa
Entidade.
A Verª. Teresinha Irigaray, proponente desta Sessão especial que com
tanto carinho e ternura acolhe a Estância da Poesia Crioula, rendendo
homenagens a filhos diletos da Estância da Poesia Crioula, sócios fundadores,
falecidos e vivos.
Meus senhores e minhas senhoras, meus companheiros de diretoria,
Beatriz Castro que por uma destas manifestações estranhas do destino, ficou
vinculada a minha esposa na menção de seu nome e de sua atividade como
Secretária, o que muito me honra. Companheiro diretor de edições e publicidade
da Estância, Rui Cardoso Nunes; Secretário de atas, Prof. Luiz Gonçalves,
assessores da Presidência aqui presentes como o companheiro Alberi Carmo de
Oliveira, poetas da Estância com suas esposas poetisas, inclusive, para o meu
grato prazer e deleite dos meus olhos, minha esposa Maria Dornelles que acaba
de chegar, tranqüilizando-me da aflição que estava a me envolver pela demora.
Meus amigos, se eu pudesse, também cumpriria a receita que é ótima e perfeita
do Poeta da lá. Vamos ver se eu posso obter esta graça, porque falar com poucas
palavras, é uma graça divina para os homens.
Mas devemos dizer aos Srs. Vereadores do nosso reconhecimento por esta
homenagem, citando, embora de maneira sucinta, as sinopses das nossas
realizações que justificam a vida da Entidade no panorama cultural do Rio
Grande do Sul, a vida de um homem ou como a de uma entidade ou a de uma nação
se mede através das realizações e promoções, não apenas nas aspirações. Em
síntese, são 30 anos de ininterrupta atividade cultural, em função do povo do
Rio Grande do Sul e trabalhando para fortalecer a cultura regional no Rio
Grande do Sul e em toda parte do Brasil onde estejam os gaúchos. Foram feitos
serões literários e artísticos às centenas, foram realizadas sessões
administrativas de estudos, de pesquisas, de debates, internamente, às
centenas, talvez até atingindo um milhar, palestras da Direção e de membros da
Estância da Poesia Crioula houve-as em todos os Centros de Tradições do Rio
Grande do Sul, fora do Estado, em clubes de cultura, em escolas primárias,
secundárias e universitárias, congressos que tivemos, fora os de Porto Alegre,
sede central da entidade, em Caxias do Sul, Santa Maria, e São Borja. Filiais
da Estância da Poesia Crioula, com o nome de Invernadas, foram criadas
diversas, e eu cito as de São Gabriel, Alegrete, Rosário e Santana do Livramento,
frutos serôdios da atividade da Estância foram as atividades realizadas
recentemente em Santana do Livramento, em função do cultivo e do estímulo à
poesia crioula, a participação ostensiva, bienalmente, junto aos rodeios de
Vacaria, da Comissão de Jurados Literários da Estância da Poesia Crioula para
julgar centenas de poemas enviados aos concursos que de 2 em 2 anos realiza o
rodeio de Vacaria, hoje, em síntese, reunidos num livro publicado no início
deste ano. A participação permanente, com debates, palestras e assessoramento,
em todos os congressos do Movimento Tradicionalista Gaúcho, em dezenas e
dezenas de municípios do Rio Grande do Sul. A participação ostensiva, desde o
seu Presidente, ideador daquele festival que foi batizado, por Olmar Duarte, de
Califórnia da Canção Nativa, mas cuja estrutura rítmica em defesa da música
nativista do Rio Grande do Sul partiu de nós, hoje na Presidência da Estância
da Poesia Crioula. E através dos nossos poetas, tanto da direção da Estância,
como das hostes da Estância, todos altamente qualificados pela sabedoria
emocional dos seus poemas, como pela cultura universitária que possuem. Jurados
desses 60 festivais que se realizam pelo Rio Grande do Sul, alguns até, como o
de Palmeira das Missões, também, fruto da intervenção direta de nossos
associados, como é o caso do ex-Presidente, Prof. Mozart Pereira Soares,
criador do “Carijó da Canção Nativa”, em Palmeira das Missões. A participação
da Estância da Poesia Crioula, desde um ano antes da sua fundação, ainda em
1956, povoa os jornais da capital do Rio Grande do Sul, o Jornal semanal, o
hebdomadário “Hoje”, o “Diário de Notícias”, “A Hora”, o “Correio do Povo”, o
“Jornal do Dia”, revistas como “A Idade Nova”, como a do “Instituto
Anchietano”, “O Eco”, revistas do interior do Rio Grande do Sul, como de fora
do Estado, participação ostensiva, inclusive recebendo, a Estância da Poesia
Crioula, a honra de presidir o Congresso Internacional de Tradicionalismo, em
Montevidéu, em 1958; quando éramos presidente dessa Entidade. O lançamento
sistematizado, com manifestações críticas, de centenas de obras e, acima de
tudo, como frisou o Ver. Raul Casa, o consagramento dos poetas que é realmente
a grande filosofia pacífica e construtiva dos poetas da Estância da Poesia
Crioula. Consagramento dos poetas que fizemos na nossa convocação a figuras
eméritas de pessoas que estavam no último solo de sua existência como o grande
mestre, mestre universitário e de saber, que se dava ao luxo de telefonar aos
padres do Anchieta, em Latim, Teles Rodrigues, o romancista de “Farrapos”,
publicado em 1935; o poeta de “Gauchadas e gauchismos”, publicado em Paris, em
1922. Mestres como Walter Spalding, que foi funcionário da municipalidade de
Porto Alegre, Diretor do Arquivo Histórico, companheiro, também poeta e autor
da Ópera Panaim, um autor de lendas e acima de tudo da flama heróica e
estimulante dos farrapos, pesquisador incansável, organizador de congressos de
história e geografia no Rio grande do Sul, vultos admiráveis que vieram a
formar, junto de então jovens, como eu, absolutamente anônimos, em 57; vultos
da estatura nacional de um Augusto Meyer, de um Athos Damasceno que se
consagrou depois de ser o poeta da Cidade de Porto Alegre, o grande pesquisador
da microestória no teatro, na Imprensa, na vida comunitária dos bares, dos
encontros cordiais, dos querbes, em Porto Alegre; Vargas Neto, príncipe dos
poetas crioulos que Getúlio, seu tio, levou-o para o Rio e o fez Procurador da
República e Deputado Federal; vultos eminentes que, graças à ação da poesia
crioula, como catalisadora do amor dos poetas do Rio Grande do Sul, resolveram
publicar seus livros como Aureliano Pinto, como José Pinto, seu irmão, citado,
hoje o Aureliano, como um poeta de expressão internacional, porque fez do seu
gauchismo a mensagem do homem de todas as paragens que vivência a vida do
campeiro, na sua grandeza, na perspectiva histórica da sua luta pela liberdade
e na defesa do seu País, ao longo se dois séculos e meio.
Um Balduíno Marques da Rocha, a quem homenageamos nesta Câmara, hoje,
por festejar o centenário da publicação de um poema mestre da literatura que é
o “Primeiro Soneto de Intenção Satírica Institucional”, referindo-se à Escola
de Medicina de Porto Alegre, “Estância de Dom Sarmento”, publicado em 1937. Ele
ainda vive, grande médico, conhecido de todos.
Seria um não acabar de nomes se fossemos coligir ao sabor da memória,
pelo menos os 88 nomes dos fundadores de 1957. Não podemos deixar de evocar,
nesta hora, um homem extraordinário que foi colega do Ver. Raul Casa e foi meu
colega, mas, acima de tudo, era nosso amigo,
e venerado por nós pela imensidão do seu talento e a grandeza do seu
gesto, um grande advogado, que tem na sua memória honrada com o nome concedido
à Sala dos Advogados da Ordem dos Advogados de Porto Alegre, Guilherme Schultz
Filho. Em 1960, quando a Assembléia Legislativa instituiu um concurso de poesia
para celebrar a gesta Farrapa, ganhou o primeiro lugar com o poema antológico
“A Gesta de um Clarim”, recitado por mais de uma vez no recinto da Câmara
Municipal pelo Ver. Raul Casa.
Peri Castro, uma figura querida que vive entranhada na nossa memória e
na nossa afetividade, esposo da nossa companheira, Nilza Castro, a ganhadora de
dois concursos de poesia, recentemente instituídos pela Estância da Poesia
Crioula, e que nos dará, daqui a minutos, o prazer de ouvir os seus sonetos.
São inúmeras as recordações. Dos vivos, pode-se dizer da grande poesia
do Aparição Silva Rillo que se destaca em tudo que toca com a sua pena, na
prosa, no humorismo, na poesia gauchesca, como na poesia universalisata, e um
jovem soldado da Polícia Militar do Rio Grande do Sul, José Hilário Ayala
Retamoso, crescendo de uma maneira admirável, constituindo-se num verdadeiro
espetáculo de engrandecimento de cada
leitor pela grandeza crescente e irisada da sua poesia.
E, agora, falamos da homenagem que ontem prestamos, acolhendo
oficialmente no nosso Grêmio os “payadores” do Rio Grande do Sul, chamados em
linguagem povoeira de repentistas ou trovadores. A Estância deu um passo enorme
para o futuro e ao mesmo tempo segurou pelas rédeas o passado, no que tem de
indômito, de vivo, de permanente, porque na voz dos “payadores” que são os pais
dos poetas da linguagem escrita, sendo eles os expoentes da poesia oral, até a
alma do Rio Grande que não morre e que floresce sempre a cada geração. Nomes
como Luiz Müller, Lavi, Xinchinha, Doralice, Moraezinho e os jovens repentistas
como o Jaures Machado e Abeni C. de Oliveira. Albeni se encontra presente entre
nós. É um jovem que recém entra na vida. O Jaures lá está, ao lado de Paulinho
Pires. Estes homens enriqueceram a Estância da Poesia Crioula. E ensejar e
garantir para o futuro a presença fraternal dos poetas de gabinete, dos poetas
da pena ou os poetas dessa inspiração paranormal e gloriosa, que é a própria
alma do povo cantando, escrachadamente, na voz dos seus poetas, os poetas
repentistas. E na nossa linguagem chamada os “payadores”. Porque, “payadores”
são a encarnação, no verso gaúcho, dos antigos pajés indígenas, nas nações
Tapés, Miuano, Charrua, enfim, dos indígenas que antecederam o povoamento
branco no Rio Grande do Sul.
A Estância da Poesia Crioula tem uma função histórica. Nós tínhamos,
não uma premonição, mas uma certeza absoluta de que estávamos construindo e
abrindo uma página da história cultural do Rio Grande, quando convocamos os
poetas para a fundação desta Estância, desde 55 no Rio Grande do Sul, para
fazê-la emergir, já estruturada, a 30 de junho de 1957. Nós queríamos fazer no
Brasil, um aceleramento de cinergia, de intenções e esforços, aquilo que já
fizera na Argentina e no Uruguai há um século. A constituição de um patrimônio
literário de centenas de livros em prosa e verso e centenas de revistas falando
da vida do gaúcho em todos os aspectos, não apenas como um campeiro, mas como
um campeiro que lutou pela liberdade, pela República, pela Federação, pela
autonomia dos seus rincões e que soube lutar também pela expulsão dos invasores
em sua terra. Os Argentinos lutando pela expulsão dos Espanhóis e Brasileiros;
os Uruguaios lutando contra a expulsão de Argentinos, Brasileiros e Espanhóis e
os Brasileiros lutando contra a expulsão de Uruguaios, Argentinos e Espanhóis.
E hoje, esses gaúchos de três pátrias, corporificados dentro da Estância da
Poesia Crioula, esquecem a guerra e dela retiram apenas a auréola da glória,
porque ela é imoral e inerente a todos os gaúchos, para celebrar apenas a
fraternidade da nação gaúcha que está acima dessas três pátrias, porque é uma
nação americana. Essa nossa entidade destina-se a consagrar a presença
espiritual do gaúcho no mundo. Por isso, assinalava acertadamente, em face da
história, Ver. Raul Casa, ao dizer: uma entidade única, porque se o Cossaco foi
um grande homem a cavalo, um homem tropeiro, ele manchou a sua glória com a sua
filosofia bárbara, filosofia de morte, morte dentro do lar, porque entre os
Cossacos o chefe do lar é o chefe do clã com poderes de vida e morte sobre os
seus filhos. Apenas o gaúcho é um cavaleiro e não apenas isto, por isso sua
grandeza, é um arauto da liberdade e um poeta, porque em todos os soldados da
campanha que eram civis, levados ao uso da arma por necessidades históricas,
havia sempre um poeta repentista, que não tendo os instrumentos na mão pegava
um tatu, tirava-lhe a carapaça e com as fibras, tiradas de suas tripas,
constituía as cordas em que tanger o rústico instrumento, dele extraindo sons
maviosos, que são característicos da viola e do violão.
Já se vê, Ver.ª Teresinha Irigaray, que a Estância da Poesia Crioula é
uma presença histórica do passado, com uma missão religiosa, litúrgica, de
culto e cultivo da poesia. E nós vemos no ato desta Câmara de Vereadores, ao
homenagear a Estância da Poesia Crioula, a voz do povo a nos conclamar e, na
palavra dos Vereadores que fizeram uso dela ou que se fizeram representar -
Ver. Raul Casa, Ver. Rafael Santos, Ver. Jorge Goularte e a proponente desta
Sessão, Ver.ª Prof.ª Teresinha Irigaray, ouvimos, nestas vozes, a voz do povo
nos dizendo “é preciso prosseguir”. E nós vamos prosseguir, com a
responsabilidade consciente da nossa missão, aliciando os jovens e trazendo
para dentro das nossas fileiras, como fizemos ontem, o que há de permanente no
povo em estado de poesia: os “payadores” do Rio Grande do Sul.
Esta é a palavra de agradecimento da Estância da Poesia Crioula, na
pessoa de seu Presidente. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Ouviremos, agora, a poesia
“Estância da Poesia Crioula” (1° lugar do Concurso de Poesias).
A SRA. NILZA CASTRO: (Lê.)
Recordo aquela noite de invernia,
de encontros sorridentes e de abraços,
voto e presença de uma Academia
já ensaiando os primeiros passos.
Em cada coração que se expandia,
acendendo luzeiros nos espaços,
jorrava, aos borbotões, tema e poesia
na cadência pampeana dos compassos.
E foram desfilando os pajadores,
artífices do verso, contadores
das nossas lendas, das consagrações...
E a Estância da Poesia, enriquecida,
cultuando os ideais da arremetida,
gravou nas letras as nossas tradições!
Nilza Castro.”
A SRA. PRESIDENTE: A seguir, ouviremos mais uma
apresentação do Coral.
O SR. GERALDO THIESEN
(representante do Coral): A seguir, executaremos, de Euclides Fagundes e Antonio Fagundes, o
“Canto Alegretense”.
(O Coral
procede à apresentação.)
O SR. GERALDO THIESEN: Agora, de Moacir Resling,
“Meu Pago”.
(O Coral
procede à apresentação.)
O SR. GERALDO THIESEN: Como encerramento, o Coral
Piratini, agradecendo a honra e o convite para esta apresentação em homenagem à
Estância da Poesia Crioula, apresentará, de Leonardo, “Céu, Sol, Sul, Terra e
Cor”.
(O Coral
procede à apresentação.) (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar
declaro encerrados os trabalhos, convocando os Srs. Vereadores para a Reunião
Ordinária de amanhã à hora regimental.
(Levanta-se a Sessão às 17h55min.)
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